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quinta-feira, 21 de julho de 2011

AS MULHERES QUE NUNCA TIVE PELO MEU MELHOR AMIGO: Olga ou Iolanda


  Mulher Sexy
 Tinha nome de filme nacional ou de música conhecida. Fiquei na dúvida se seu nome era Olga ou Iolanda, talvez porque ela era muitas em uma. O nome nessa história não é tão importante quanto os fatos. Eduardo Galeano no “Livro dos abraços” fala algo como: “Se é verdade, ou não, toda história passa a ser real no momento em que está sendo contada”. Meu amigo me contou que na primeira vez que se viram, errou todo um roteiro que estava decorando para uma apresentação escolar. Estudaram juntos  no ensino médio. Ele já estava naquele colégio desde o fundamental, ela, veio transferida não se sabe de onde, mas apareceu num dia de aula, e de repente estava lá, presente e chamativa, de poucas palavras mas de flertes fatais, dos que desnorteiam, que te pegam desprevinido e te deixam sem jeito. Quando bateu os olhos na criatura a perna bambeou. De lá em diante, todos os intervalos passaram juntos, rindo de tudo. Nessa época meu amigo morava com seus pais, nem tão conservadores, mas protetores em demasia ao ponto de acordarem de madrugada para esquentarem a comida imaginando que ele havia chegado com fome. Descobria a vida e os prazeres com ela, perdendo a hora de chegar em casa, de acordar pra ir trabalhar, de contar as horas pra chegar na escola. Mas todo ano letivo acaba, assim como uma partida de futebol, um campeonato, um pacote de salgadinho, um livro que te prende. Passada a formatura se viram uma ou duas vezes. Veio a faculdade, novos amigos, novos caminhos e a figura, sumiu, como se tivesse desaperecido na névoa de Paranapiacaba depois das 5 da tarde. E virou um ano, outro, outro e mais 8. Num dia de sol numa praça no centro da cidade, com prostitutas cansadas e de idade avançada abordando trabalhadores, vagabundos e gente de toda sorte, de ambulantes vendendo tudo que se possa imaginar (cd, dvd, comeu morreu, Jesus me chama), de charlatões com seus ungentos, de pregadores evangélicos gritando até perderem a voz, batendo na bíblia e dizendo: todo mundo tem que ter as Sagradas Escrituras em casa, leiam a biblia ao invés de gibis... ela passava em frente a banca de jornal... fiquem atentos com os lobos pois o mundo está cheinho deles... ele fixou seus olhos, quase desacreditando no que via... convencem as ovelhas a tirarem sua lã e quando as tem somem, deixando-as com frio ao relento... já não tinha mais dúvida, foi ao seu encontro. Sedução não é despertar o desejo no outro? A criatura nascera com esse dom, seduzia com facilidade, por meio do andar, do olhar, da fala: Oi, quanto tempo! E o perfume veio junto com o abraço. Cabelo pintado, escovado, roupa colada, insinuante como sempre. Parecia que o tempo não tinha passado e que nunca estiveram distantes a não ser pela aliança de ouro na mão esquerda denunciando que alguém no tempo de ausência havia tomado o lugar que um dia achou que seria seu. Foram a um bar, tomaram uns copos, conversaram sobre a vida e não voltaram ao trabalho. Os celulares tocaram, voltaram a tocar e a tocar de novo, e, se não ouviram, fingiram, terminando o horário de expediente num quarto. Contatos não trocaram, novo encontro não marcaram, deixando a esmo qualquer nova possibilidade. Estavam saciados. Parecia que suas carências haviam sido acertadas. O táxi chegou, meio corpo no carro entrou, celular na mão, um olhar de despedida com um beijo no ar, fecha a porta,  ele fita sua silhueta indo embora, enquanto ela diz com voz doce ao fone: Amor, estou chegando! (J.S. e A.Z. Silva)

6 comentários:

  1. hum adorei o encontro,quase sem tempo para terminar...ai que delícia.

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  2. ... amar na dúvida do hoje, que o amanhã não é certeza....momentos hun adorei

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  3. Sensacional! Da pra sentir cada detalhe, cada palavra, como se fosse algo insintrico! Raquel Tolesquini

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  4. Explêndido!! Meu amigo, de uma verdade sem par, me senti transportada para aquela praça, próxima a uma banca de jornal, como se eu estivesse presente nesse encontro.

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  5. Adorei o texto...sem palavras!

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