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sexta-feira, 27 de maio de 2011

O diabo veste calça

Hoje o demônio passou por mim, não vestia saia, usava calça colada, não tinha olhos vermelhos e nem fedia a enxofre, eram seus olhos verdes e possuía um perfume de jardim. Como é do conhecimento de todos: o demônio tem muitas faces, mas esse tinha uma que eu gostava muito. Ele não era discreto, passava e todos sabiam que estava presente, sua energia era tamanha que sentíamos sua presença a passos de distância. Dava uns calafrios, era um misto de adrenalina ativada pelo medo e pelo desejo de aventura. Como todos sabem não espero mais a visita do cramunhão na minha vida, pois num dia de sol vendi minha alma para ele por 3 cervejas geladas, portanto, não há motivo algum para ele se travestir de qualquer ser para vir ter comigo. Assim sendo, vi o tal se passar ao lado, sabia que era ele, na sua melhor forma, sabia que não era comigo e como todo covarde, não fiz nada para chamar atenção. Pois bem, tinha sentado próximo um jovem, bonitinho e em condições de uso, nada que merecesse o que ia em sua direção. Já tinha observado que bebia e meio que fazia uma prece, era visível sua infelicidade e indignação por algo. Em dado momento, olhava para o infinito cheio de desesperança. São em momentos assim, que pessoas rogam e pedem coisas. Acho que aquele demônio ia atender alguma prece dele. Pois minhas suspeitas se confirmaram, ele foi em sua direção, aquele vento cinematográfico agitava seus cabelos dourados, seu decote hipnotizava o rapaz e sem nenhuma explicação ele sentou-se ao seu lado, pediu um copo e bebeu com a sede de quem pecou, roçou sua perna na dele e ele de imediato sorriu com a alegria de um fiel que teve seu milagre atendido.  Ah, inferno! E eu vendi a minha alma só por três cervejas.(A. Z.)

terça-feira, 24 de maio de 2011

AS MULHERES QUE NUNCA TIVE PELO MEU MELHOR AMIGO: Rosália



A Rosália tem a graciosidade do seu nome. É uma mulher elegante na forma, afetuosa, carinhosa, cuidadosa. Ela está livre, seus olhos graúdos tem um cintilante que os tornam mais belos. Ela parece possuir a fosseta loreal, substância que permite a cobra perceber a temperatura ao seu entorno, simplificando, ela está quente e sentindo o calor, ela está na pista. Essa postura que libera cheiros, humores e hormônios, é uma espécie de cartão de visita da fêmea. Ela fica visível, sai do obscurantismo monótono da monogamia. Quem primeiro a percebeu foi um bombeiro, coincidência? Não, sensibilidade de ofício, ela arde. Mas para entender seu presente, é preciso saber seu passado de brasas em cinzas. Só teve amores mornos, os últimos homens faziam dela labareda em lareira. Mas ela sempre quis atear fogo no mundo. Não teve muita sorte, por muito tempo não cultuaram bem sua centelha, para se livrar desses “iceman's" perdeu de tudo um pouco: dinheiro, alegria e seu próprio tempo. Mas tudo a preparou para o momento que viria, esse momento leve, de auto-estima elevada, desejada e desejante, uma mulher voando baixo e de brasa acesa. Uma mulher madura e segura de si, que quer brincar, viajar, quer curtir e amar. Acho que vou apresentá-la ao meu amigo, ele tem a química perfeita para sua combustão, afinal, preciso de mais história para contar. E Ro rende excelente prosa e verso. (A.Z.)

AS MULHERES QUE NUNCA TIVE PELO MEU MELHOR AMIGO: Valquíria



Ele estava indo ao trabalho, atrasado como sempre. Chamou um taxi mas a previsão de espera era mais de 30 minutos. Resolveu ir caminhando, também de sua casa ao serviço, com largas passadas não dava 20 minutos. Era uma manhã linda, clara, com um vento batendo no rosto, poucas nuvens no céu, crianças brincando na rua, uma infinidade de carros passando de um lado para o outro. A cabeça estava na lista de coisas que tinha para resolver. Mentalmente ia priorizando seus afazeres mais urgentes. Óculos escuro no rosto, olhar longe, uma mochila nas costas e de repente ouve um – Bom dia moço, pode me ajudar, por favor? Sem nem ter ouvido direito, pára, olha a moça de cima a baixo, com a boca entreaberta, balança a cabeça e acena -  sim. Ela era dona de uma voz linda, de um perfume inebriante e muito bem vestida. Chamou-o para ajudar em sua mudança. Não foi preciso explicar nada e nem porque não tinham ajudantes junto ao motorista do caminhão. Atravessou a rua, adentrou o portão, desceu os degraus até a porta de entrada e carregou cada um dos poucos móveis que ali existia. Esqueceu-se do trabalho, compromisso, de horário, esqueceu-se do mundo. Entre subidas e descidas de escada ele a devorava com os olhos, feito cachorro olhando a máquina de frangos rodando na padaria, mas tomava cuidado para que  ela não notasse. Ledo engano. Além dela já ter percebido, fazia questão de ir na frente, de subir os degraus com calma, de rebolar mais do que o de costume e volta e meia virar o rosto dirigindo uma palavra ou outra: Você caiu do céu moço, nem sei como te agradecer! Ele sabia como queria ser agradecido, e aquele ar aparente de  moça casta não o convencia. Não demorou muito para carregar o caminhão, já estava em seus braços o últmo objeto, um puff de couro que ficava em frente a tv na sala da pequena casa. Ele entregou ao morotista que estava dentro da caçamba amarando a mudança de forma a realizar o transporte com segurança, quando ela lança mais uma: - Escuta moço, você pode descer comigo, queria ter a certeza que não estou esquecendo nada! Não exitou em aceitar o convite. Foram conversando, passaram o limite da porta de entrada da sala e ali mesmo ela teve certeza que havia esquecido de carregar na mudança aquele beijo. Meu amigo me contou que até hoje não voltou a vê-la. Sabe-se dela o nome, Valquíria, que escreveu num pedaço de papel junto a um número de telefone que sempre está desligado. Fora isso não esquece do seu cheiro, sua voz, da forma como estava vestida e da boca que no dia daquela mudança transportou seus pensamentos! J. S.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

AS MULHERES QUE NUNCA TIVE PELO MEU MELHOR AMIGO: Amanda


A inveja que tenho do meu amigo, não poderia ser eternamente passiva e contemplativa. Inveja, mesmo a “branca”, faz de nós seres menores. Amanda, foi a maior prova da minha fraqueza. Quando a vi pela primeira vez, meu mundo fez pausa. Me apareceu como um banquete posto com todos os meus pecados prediletos. Seus olhos emoldurados por uma maquiagem leve e cintilante, deixava seu olhar mais agatiado. Tinha uma cor e boca cabocla, cabelos pretos intensos alisados à moda do momento. Ela não ornava com ele. Seus olhos vendiam sua alma pervertida. Tinha uma volúpia contida, parecendo que iria entrar em erupção a qualquer momento. Meu amigo já teve mulheres intensas, mas essa tinha algo a mais, que ninguém sabia, até se perder naquele mar de olhos castanho claro penetrante e ser tomado pelo seu sorriso vadio. Levei tempo pra ver outras partes do seu corpo, ficava preso ao rosto, mas saibam, que o resto era proporcionalmente encantador: mãos, pés, coxa, bunda, barriga. E os seios? A tempo de serem colhidos por mãos fortes e delicadas! Não podia ser as dele, a obssessão que nesse momento já tinha me consumido exigia que fossem as minhas. Ela seduzia quem ela queria e o resto do mundo ao seu redor. Fui eu fisgado, encantado, amaldiçoado, contaminado, paralisado por ela, mas ELE havia sido primeiro. Agora tínhamos um problema, dividí-la. Eu estava disposto a cortar quantas cabeças fossem necessárias, feito a rainha de copas de Alice pra ficar com ela. Por Amanda, morreria, mataria e até perderia… a amizade do meu melhor amigo. Pergunto: quantas mulheres valem algo tão genuíno? Amanda valia! Estava determinado, tinha perdido noites elaborando um plano que parecia quase infalível: a roubaria dos braços dele, daria uns tapas caso resistisse, conspiraria uma vida inteira para que não ficassem juntos ou desistiria, o que seria o mais provável. Porém meu amigo, experiente na arte de seduzir e abandonar, percebeu a minha cegueira, retirou-se para uma  anti-sala, sentou-se, abriu um pacote de amendoim japonês e como um voyeur assitiu eu me perder amadoramente na maciez daquela pele. Sumi por semanas... e quando voltei dei-lhe um beijo fraternal e agradecido! Nunca mais falamos no assunto, quer dizer, em dias de bebedeira rimos de forma leve e isolada, sem cobranças, sem críticas, sem ressentimentos. Ele já  reconquistou-a quantas vezes quis, a diferença é que agora não me chama mais pra sair com eles. (A. Z. e J. S. )